Artigo

Chalé de Embaú

A areia que entrava nos chinelos provocava uma sensação desagradável...

A areia que entrava nos chinelos provocava uma sensação desagradável.

Melhor segurá-los nas mãos até voltar ao chalé. Assim pensou. Assim fez.

Uma rua estreita. Os carros tinham dificuldades em se desviarem. Parecia estranho como havia mato em suas margens. Estranho, justamente por estar tão perto do mar.

Caminhou observando e admirando tudo. Parecia diferente agora ou será que nunca tinha estado ali?

Bem pouco a frente já começou a sentir o cheiro da maresia.

Mas não só.

Misturados a ele sentiu também um cheiro gostoso de espetinhos sendo preparados... de dar água na boca. Que fome sentiu naquele momento. Agora tinha certeza:

Em outra oportunidade devia ter estado no local. Talvez na sua vida anterior, talvez num sonho. Não sabia, mas a sensação era de familiaridade com o lugar.

Muitas e boas recordações certamente tinham se fixado na sua mente. Talvez a comida - churrasco, arroz, saladas, sorvete - Enfim, quantos “enfins” tomaram-lhe a mente.

Agora só buscava, no íntimo, um passado iluminado que quiçá nem viveu.

Bom.

Bem bom.

Os pés doíam.

Entrou no primeiro restaurante que encontrou. Olhou para os lados procurando alguma indicação de preços.

Precisava economizar. Precisava e por isso continuou com fome.

Avistou a sorveteria e pensou que ali, provavelmente, estivera.

Esboçou um pequeno sorriso meio contido.

Não por mais de alguns segundos, pois havia o mar. Límpido, manso e convidativo.

Sem vontade de mergulhar apenas sentou à beira da praia.

A beira da vida.

A margem da alegria.

Sentou-se a sombra de um pretérito de desconhecidas emoções.

Falante, o barqueiro conduzia banhistas para a margem do mar passando calmamente pelo Rio da Madre. Parecia feliz. Voz alta, sorriso fácil. Contudo ninguém conhece o íntimo das pessoas, seria real o que demonstrava?

Levantou-se.

Pagou e foi conduzido mudo para a beira do mar azul.

Em cima das pedras contemplou o céu com vultos sugestivos.

Sentiu nas veias a adrenalina povoando o sangue.

Abaixou-se. Contemplou o infinito misterioso. Soltou lágrimas salgadas que ao caírem invadiram o mar.

Que fiquem também entranhadas com a areia e que ela as guarde, pois brotaram do fundo do coração e escorreram pelos olhos nus nas águas quentes e inesquecíveis da beleza, da emoção e das realizações.

Bela Embaú. Quantos mistérios estarão guardados em sua história e suas paisagens?

É muita beleza para uma vida só.

Escrito por:

MOACIR LUÍS ARALDI

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