O Fumantismo
Admiro incansavelmente o escritor...
Admiro incansavelmente o escritor. Este colega do dia-a-dia. Conta suas produções literárias com tal entusiasmo que me atiça a escrever algo. Qualquer coisa. Se sair em linhas subtraídas chamo de frase, pensamento ou algo assim, se mais extenso chamo conto ou crônica.
Tarefa guerreira é escrever. Às vezes uma palavra atira-se em outra e quebra a muralha destruindo a frase. Não a recomponho. Se esta por ventura vier a ser tombada pelo patrimônio histórico literário, os historiadores que a reelaborem. Pior mesmo, e isto é o mais provável, se não tiver nenhum valor. É enrolar o papel o lotar o balde de lixo. Para mim há uma saída quando faltam palavras: ascendo um cigarro e elas emergem em meio a fumaça, mas e os escritores (ou não) que não fumam? Deve ser terrível. Talvez consumam "chicletes" ou sei lá o que fazem. Agora, uma coisa é certa: nada melhor que a fumaça do cigarro para trazer ideias brilhantes. Não importa se o pulmão está cancerígeno. Se a garganta incha, se o coração dispara. Afinal, o escritor não precisa destes em pleno funcionamento, sua tarefa é apenas escrever.
Portanto o escritor pode ser fumante. Se morrer jovem, ótimo. Se for vítima do cigarro, excelente. Não é mais fácil à obra fazer sucesso após a morte de seu criador?
Sem esquecer que na lápide orgulhosamente poderemos grafar no epitáfio: aqui jaz um “fumantista”.
Então, fumemos colegas "escritorinhos". “Fumemo-nos mutuamente até o dia em que os críticos reconheçam este novo movimento literário: O “FUMANTISMO”“.
Sátira publicada no jornal Diário da Manhã em 1986.
(Interlúdios)