Artigo

Roda Gigante

Decidiu não mais tocar no assunto. Jamais...

Decidiu não mais tocar no assunto.  Jamais. 
Passado é passado. Foi intenso, mas considerava superado. 
Mergulhado no trabalho, passava horas, até mesmo um turno inteiro sem lembrar.
Verdade que a noite em casa, ainda acessava velhos links e redes sociais quase que por instinto. 
Teve momentos que desejou que todos os sentimentos fossem controlados por botões liga e desliga. 
Por vezes pintava cenários extremamente românticos e, em sua mente, cenas de amor inesquecíveis rodavam lentamente, como faziam os antigos projetores do cine Imperial. 
Lá sonhou ser o mais viril dos atores pornôs. O mocinho que encantava gerações. Don Juan de uma juventude rebelde que, de cabelos longos, sonhava com a liberdade sexual e política, ainda assim, aos domingos à tarde sorria ridiculamente na roda gigante de um parque de diversão nômade, por ora ali fixado. 
Por outros, com amigos na Praça da Mãe Preta balançando a chave do fusca branco antigo. 
A revolução que sonhava nunca ajudou a fazer. No máximo cantarolava Geraldo Vandré agarrado ao seu violão com cordas de nylon. 
Não tinha tantos motivos para sorrir. A vida nunca lhe fora muito generosa. Por vezes sentia-se o escravo substituto de Bentinho no seminário, por outras o próprio Dom Casmurro.  
Só entendeu que tudo pode piorar após o professor Henrique pedir a leitura e análise de "Os Lusíadas".  
Dos lábios de mel, restou-lhe apenas Iracema. 
Agora estava só. Balançou a garrafa e, por sorte, ainda tinha mais de meio litro de alegria e uma lembrança da amada para poder sonhar.
(Interlúdios)

Escrito por:

MOACIR LUÍS ARALDI

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