Artigo

Prefácio do livro Abstrato poético

Um mimo da amigo Maria Elizabeth Candio Professora de letras, com mestrado em Literatura Comparada, revisora, poeta e membro da Academia Contemporânea de Letras.

Em face dos Abstratos poéticos, quinto livro da bela safra de Moacir Luís Araldi, descortina-se um mergulho na alma, através de versos simples com temática profunda, tal como em Arco-Íris:
Preferi colorir meus olhos,
deixando a  natureza como estava.

O poeta em questão igualmente projeta profundidades com imagens ricas e metáforas bem construídas, como em Camafeu:
Morder os olhos, /sentir o sabor/e degustar lentamente/semente por semente;
E no belíssimo  Pelo ar:
Dormem as borboletas. /Pedras endurecem o tom /e as areias desmaiam o chão.
Utilizando-se, notadamente, de elementos da natureza, Moacir aborda realidades e desencantos da vida de todos nós:
Á noitinha, a neblina virá/como sempre vem,/e mudará meus pensamentos./Lembrar-me-ei das nuvens brancas/ que abrirão o dia, amanhã,/e terei vontade de escrever/um verso nelas.
Mas o giz não alcança,/e, se alcançasse, seria da mesma cor:
- Ninguém leria.
- Do poema Delírio –

Por suas estrelas, /a noite é linda,/e a escuridão que/não se vê/é pranto oculto,/latejante,/vulto/que dói profundo.
Às vezes escura,/às vezes bela./É como a vida /- Eterna espera.
- Do poema Pranto oculto – 
Há, por conseguinte, poemas que falam da humanidade (ou da desumanidade) dos seres humanos, como em Plurais:
O tempo nublou/ e a chuva virá/ ao anoitecer./ Falta humanidade /e botes Salva-vidas.
Discursos plurais,/razões singulares./ Pobre gente! /Em mãos que metem a mão/ o poder apodrece. /E o mal floresce.
Entretanto, há redenção e esperança para todos, como no sublime poema Eternidades:
Quase toda noite é escura, /mas há exceções./ Nem todo breu é sem brilho,/ são diferentes as visões. /Almas não ficam sozinhas./  Existe a leveza do voo /e, se não bastasse, /são tantas as eternidades!
Sabendo, inclusive, que sua matéria de beleza é a poesia, Moacir presta sua singela homenagem a essa arte, quase sempre esquecida, em Infusão:
O perfume exala, /inspirando o rimador. / Quente é a poesia. /Seu rosto é retrato / de vapor abstrato, /desenhado no espelho. / O verso cafeinado ascende os sonhos 
dá asas aos pensamentos
enobrece a criação 
e

ternura
poética
voa. 
O poeta também sabe celebrar a vida vivida, embora com certa nostalgia, em um dos mais belos poemas do livro, Olhar:
Olhei demoradamente 
para a foto da família.
Rostos lindos,
que meu coração vê.

Dedicatória
de algum ano
em que o sol se punha, rindo.

De lá para cá, eu a perdi,
juventude!
Agora, só a tenho retratada.
Mas eu ainda a encontro na memória...
Ficou longe 
a cor da infância!
Silêncio é o que prende
a garganta.
Fecho os olhos.
Saudade!

Saudade é também o que nos fica, após a leitura de Abstratos Poéticos, um livro que discorre acerca de silêncios, tal qual em Quietude  (Onde se abriga o silêncio/que tantos guardam?), e em muitos outros poemas. Todavia, é com o ruído das palavras que Moacir Luís Araldi se destaca como sendo um dos grandes poetas de sua geração, seja por seu lirismo que encanta, seja pelo manejo majestoso das palavras.

Maria Elizabeth Candio
Professora de letras, com mestrado em Literatura Comparada, revisora, poeta e membro da Academia Contemporânea de Letras.
 

Escrito por:

MOACIR LUÍS ARALDI

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