Artigo

Dobradiças

A porta está fechada há muito tempo.

A porta está fechada
há muito tempo.
As dobradiças rangem,
longamente.

Chove não tão forte, 
mas os pés parecem afogados.

Um ventinho anuncia pausa.
Pingo isolado faz a poça tremer.

Lá dentro está seco.

O tempo deve ter agido,
mas criou mau cheiro no ambiente.

Marcas de total ausência.

O que foi sonho, 
foi-se.

Foice.

As marcas estão em tudo.

Era lindo!

Findou-se
e a criação não encanta, 
não é mais arte.

Voltar ao trem é inevitável:
- balança, balança, balança
e segue seu caminho, seu fluxo.

As estações se sucedem.
Sigamos.
A vida assim pede.

Ainda chove,
não há enganos.
Tudo está vivo,
só não se expressa.

Tempo
impiedoso, indigesto, implacável.
Nada desfaz, apenas afasta,
lacra e esconde a chave.

O olhar em pântanos 
não brilha cintilante.

Nada voltará a ser como antes.

Cegará em instantes.

(Do livro Abstratos poéticos)

 

Escrito por:

MOACIR LUÍS ARALDI

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